Há liberdade quando o governo é controlado pela lei; e a lei, pelos cidadãos. Assim os pais fundadores dos EUA dispuseram, na Constituição dos EUA. E é a Constituição que define os EUA. Todos os membros do governo e das Forças Armadas juram obedecer à Constituição – ninguém jura que obedecerá ao governo, ao presidente ou a algum partido ou ideologia – e defender a Constituição contra os inimigos internos e externos.
Hoje, o que é preciso é defendermos a Constituição, contra os inimigos da Constituição que vivem dentro do “nosso próprio” governo. Os inimigos externos dos EUA são minúsculos. Já os inimigos internos, esses, são legiões. São inimigos dos EUA – com exceção dos ‘vazadores’ de notícias verdadeiras – todos os membros, agentes e funcionários do governo dos EUA, Executivo, Legislativo (as exceções não chegam a uma dúzia) e Judiciário (poucas exceções).
Os três ‘poderes’ do governo dos EUA uniram-se para destruir as liberdades civis nesse país, em nome de uma mentira, uma invenção: a “guerra ao terror”. Ainda que os EUA tivessem sido invadidos e fossem controlados por terroristas, que terroristas conseguiriam causar mais mal aos EUA que o mal que nos faz “nosso próprio” governo, que destruiu a Constituição dos EUA?
Quem não acredite que
a Constituição dos EUA foi destruída igualmente por Republicanos e Democratas, que leia o livro que escrevi em co-autoria com Lawrence M. Stratton, The Tyranny Of Good Intentions [A Tirania das Boas Intenções]..
Bradley Manning, do Exército dos EUA, cumpriu o juramento que fez ao alistar-se, de respeitar o Código Militar dos EUA, os padrões de Nuremberg definidos pelo governo dos EUA, tudo o que dispôs o Comandante das Forças Conjuntas do Estado-maior durante o governo George W. Bush e, também, que respeitaria a própria consciência. Manning está sendo acusado de ter entregue a WikiLeaks o vídeo em que se veem militares dos EUA assassinando dois jornalistas e uma dúzia de inocentes que andam por uma rua. O vídeo pode (e deve) ser visto em aqui mesmo no blog. Depois do assassinato dessas pessoas</a> por soldados norte-americanos que jogavam videogame com seres humanos vivos, um pai e duas crianças pararam a van em que viajavam para ajudar os sobreviventes que agonizavam na rua. Os soldados norte-americanos, movidos por sede de sangue, por incompetência ou pela própria imensa maldade, assassinaram também o pai, e meteram duas balas de grosso calibre no corpo das duas criancinhas.
Os assassinos culparam o pai por trazer crianças para a zona de combate criada pela incompetência, pela perversão ou pela maldade essencial dos soldados dos EUA, os quais certamente ganham pontos por assassinar gente. Disseram que câmeras de televisão foram tomadas por armas, o que justificaria o assassinato de 15 pessoas.
Em seguida, algumas pessoas desarmadas, como se vê claramente no vídeo, entram em um prédio.
Os soldados dos EUA decidiram que aquelas pessoas desarmadas portavam armas e mandaram três mísseis Hellfire contra o prédio. Os soldados dos EUA então concluem o relatório, informando que todos os “alvos” foram mortos.
Qualquer cidadão norte-americano decente que assista a esse vídeo, terá ímpetos de divulgá-lo. Se Manning entregou o vídeo ao Wikileaks, Manning é o melhor norte-americano vivo, o mais moralmente digno e decente. E o que a consciência moral está custando a Manning?
Até aqui, já custou a Manning 900 dias de prisão ilegal, incomunicável, por ordem do governo dos EUA. O governo do presidente John F. Kennedy durou 1.000 dias. Manning foi mantido preso e torturado por praticamente tanto tempo quando durou, por aqui, inteiro, o sonho de Camelot.
E o governo dos EUA escapou dessa, sem qualquer condenação. Os norte-americanos não dão a mínima. Não é com eles. São estúpidos demais para entender que, uma vez atropelada a lei, o próximo atropelado pode ser qualquer um deles.
Em sua sanha para punir Manning, militares e civis norte-americanos não conseguem entender que a lição que resta, aprendida pelos soldados, é que crimes contra a humanidade não serão punidos; mas quem revele os crimes, sim, esses, serão castigados.
Dia 29 de novembro, Bradley Manning depôs num tribunal federal sobre o confinamento ilegal e a tortura que lhe foram impostos pelo governo dos EUA. O depoimento de Manning não foi assunto na imprensa corporativa dos EUA. O New York Times, nas palavras de Chris Floyd, “contentou-se com um resumo de telegrama copiado da AP, enterrado no fundo da página 3.”
O Guardian britânico cobriu em detalhes o depoimento de Manning, em duas matérias de 68 parágrafos. A opinião pública britânica está informada sobre os crimes contra a humanidade cometidos pelo governo dos EUA e sobre as violações da lei internacional e da lei norte-americana; os norte-americanos não sabem de nada.
Investigação formal conduzida pela ONU, para conhecer detalhes do tratamento ilegal, brutal e desumano a que foi submetido Bradley Manning descobriu o que já se sabe: que o governo dos EUA deu tratamento “cruel de desumano” a um de seus melhores soldados. O porta-voz do Departamento de Estado, coronel P.J. Crowley, demitiu-se publicamente, como protesto contra o tratamento que o governo dos EUA deu a Manning.
A imprensa-empresa, a mídia presstituta*, manteve-se calada.
Glenn Greenwald, advogado constitucionalista, concluiu que “os jornalistas do establishment norte-americano facilitaram, ao governo, cada passo dessa trajetória”. A mídia presstituta* autoapresenta-se como agente vigilante, mas nada irrita mais esses ‘jornalistas’ que alguém que realmente desafie os atos do poder.”
Greenwald elogia Bradley Manning, que “prestou ao mundo tantos serviços vitalmente importantes. Mas, quando a corte marcial que o julgar chegar afinal à sentença, que provavelmente será sentença de muitos anos de cadeia, afinal se entenderá que o maior serviço que Manning prestou ao seu país e ao mundo foi escancarar essa janela pela qual é possível ver, diretamente, a alma política dos EUA.”
E o que se vê por essa janela, da alma política dos EUA, é o mal, mal total. O governo dos EUA é o Povo Eleito de Satã. Só isso, absolutamente mais nada, se pode dizer de quem nos governa, tortura e oprime.
Nota blog: o termo "Prestituta" vem do inglês "presstitute", a junção de press (imprensa) + prostitute (prostituta).
Tradução Vila Vudu
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Fontes:
- Paul Craig Roberts: Bradley Manning: A Window Into The American Soul
- Guardian atérias sobre Bradley Manning
- Guardian: Bradley Manning: a tale of liberty lost in America
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