Segundo a doutrina social da Igreja — reiterada muitas vezes —, há questões sobre as quais os católicos são obrigados a ter uma posição homogênea, como, por exemplo, em matéria de aborto, divórcio, estrutura natural do matrimônio.
Outros temas, pelo contrário, são deixados ao julgamento da consciência bem formada dos fiéis.
Abraçando a ideologia ambientalista, o Papa Francisco, porém, estabelece um novo paradigma.
A encíclica Laudato Sì assume as teorias ecológicas catastrofistas — apesar de não existir um fundamento científico definitivo em apoio delas — e convida os fiéis a se empenharem prioritariamente nessas causas, em lugar daquelas nas quais eles devem falar com uma só voz, como a defesa da vida.
A Santa Sé vem organizando nos últimos anos congressos internacionais, oferecendo uma tribuna a expositores que sempre promoveram a redução da população mundial (mediante a contracepção e o aborto) para “poupar” o planeta Terra.
E não apenas isso. Como afirmou uma alta figura do Vaticano, pela primeira vez na história a agenda do Vaticano coincide com a das Nações Unidas, a qual se opõe em muitos pontos à verdade católica.
Em julho de 2014 o Papa Francisco caracterizou a preocupação pelo meio ambiente como “um dos maiores desafios de nossa época”, dando-lhe uma nota teológica: é preciso “converter-se a um desenvolvimento que saiba respeitar a criação [...] Esse é o nosso pecado: explorar a terra e não deixar que ela nos dê aquilo que ela tem dentro”[1].
Lançamento de encíclica ecológica de mãos dadas com a ONU
Lançamento da encíclica Laudato Si', Vaticano, 18 de junho de 2015
Poucos meses antes de três reuniões cruciais da ONU sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, o Papa Francisco publicou a encíclica Laudato Sì[2], fazendo de um lado ouvidos moucos às recomendações de um grupo consistente de teólogos, cientistas e economistas[3] e, de outro lado, pedindo a colaboração de intelectuais controvertidos como o ex-frade Leonardo Boff[4], adepto da Teologia da Libertação, ou Hans Schellnhuber[5], um membro do fracassado Club de Roma, simpático à “teoria Gaia”[6], promotor de uma Constituição da Terra, de um Conselho Global eleito pela população mundial e de uma Corte Planetária com jurisdição universal[7], além de defensor da ideia de que a população humana da terra não deveria passar de 1 bilhão.
Em 1970 Schellnhuber previu que o fim dos recursos renováveis se daria em 1990 (!).
Suas propostas são tão radicais, que o insuspeito New York Times o descreveu como “um cientista conhecido por sua posição agressiva em políticas relativas ao clima”[8].
Como preparação ao lançamento da encíclica, o Vaticano sediou uma jornada consagrada às mudanças climáticas, com a finalidade de “chegar a um consenso sobre o fato de que os valores do desenvolvimento sustentável são coerentes com os valores das principais tradições religiosas” [9].
O colóquio teve como expositores, entre outros, o então Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, o ex-presidente esquerdista do Equador, Rafael Correa, e o já citado economista Jeffrey Sachs, favorável ao controle da população através do aborto.
O próprio Hans Schellnhuber tomou parte da conferência de imprensa por ocasião do lançamento da Laudato Sì e mais tarde foi admitido como membro da Academia Pontifícia de Ciências.
Visão apocalíptica fundada em “dogmas” sem base científica
Hans Schellnhuber veicula ideias de reduzir a humanidade até em 80%
Na referida encíclica, extrapolando sua função de guardião da fé e da moral, o Papa Francisco tomou abertamente partido em um debate altamente técnico, e propôs soluções que amplos setores do mundo científico, econômico e político consideram perniciosas para a humanidade, em particular para as regiões e camadas mais pobres da população do planeta.
E isso apesar de na exortação Evangelii Gaudium ele ter escrito que “os crentes não podem pretender que uma opinião científica que lhes agrada — e que nem sequer foi suficientemente comprovada — adquira o peso de um dogma de fé”[10], e de reconhecer, na própria Laudato Sì, que “há discussões sobre problemas relativos ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso”, pelo que convida “a um debate honesto e transparente” [11].
Em que pese o anteriormente dito, o Papa afirma que “há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático”, que “numerosos estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento global das últimas décadas é devida à alta concentração de gases com efeito de estufa [...] emitidos sobretudo por causa da atividade humana”, e que isso “é particularmente agravado pelo modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis”[12].
Com base nessas asserções, sem apoio em qualquer fonte, nem sequer em pé de página[13], a encíclica fornece uma visão apocalíptica dessas ameaças ao meio ambiente[14]:
“O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida atual — por ser insustentável — só pode desembocar em catástrofes, como aliás já está acontecendo periodicamente em várias regiões”[15].
Promoção de um estilo de vida miserabilista que prejudicará sobretudo os pobres
Para o Papa Francisco, “as raízes mais profundas dos desequilíbrios atuais” têm a ver com “a orientação, os fins, o sentido e o contexto social do crescimento tecnológico e econômico”[16], que procura um aumento indefinido da riqueza.
Seria preciso, pelo contrário, uma “nova síntese”[17], uma “mudança radical”[18] e uma “corajosa revolução cultural”[19].
Sem querer “o regresso à Idade da Pedra”[20], ele sustenta, porém, que a “humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam”[21].
Essa nova cultura ecológica “deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático”[22].
Como exemplo de “hábitos nocivos de consumo” perniciosos para o meio ambiente, o Papa cita “o crescente aumento do uso e intensidade dos condicionadores de ar”[23], esquecendo que eles não são um luxo frívolo (se tivessem ar condicionado em casa, 14 mil anciãos provavelmente não teriam morrido na onda de calor que assolou o sul da França em 2003), mas uma necessidade para as condições de vida e de trabalho de milhões de pessoas em regiões tropicais.
O Papa Francisco parece esquecer que por volta de 1815 havia na Terra cerca de 1 bilhão de habitantes (a cifra ideal de Hans Schellnhuber), mas que nessa época a esperança de vida era de apenas 30 anos, e o ingresso per capita, em moeda constante, por volta de US$ 100, ou seja, que em nível mundial, por causa do progresso industrial, a esperança de vida mais do que dobrou (hoje é de 71 anos) e o ingresso multiplicou-se mais de cem vezes (hoje é US$ 12,000)[24].
Segundo o Papa Francisco, a “abordagem ecológica” é indispensável para “ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres”, principais vítimas do desenvolvimento, uma vez que eles são “maioria no planeta, milhares de milhões de pessoas”[25].
De um lado, ele também parece esquecer que a redução da extrema pobreza tem sido um grande sucesso — de 1990 a 2010 ela foi dividida pela metade, segundo o insuspeito relatório da ONU sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, do ano 2014 — e, de outro lado, que se as propostas da encíclica fossem aplicadas, as maiores vítimas seriam os pobres da periferia, ou seja, os residentes nas regiões menos desenvolvidas do mundo, condenados a permanecer no subdesenvolvimento.
É igualmente demagógico afirmar, no que se refere ao “clamor da terra”, que deixaremos às gerações futuras somente “ruínas, desertos e lixo”[26].
Como bem apontou o colunista George Will, basta comparar os níveis de poluição em Londres nos romances de Charles Dickens ou olhar para a notável transformação do rio Tâmisa nos últimos 50 anos, para ver um eloquente desmentido[27].
E a realidade no que concerne ao lixo não é tão ruim, porque muito do “descarte” é reciclado, sendo a indústria da reciclagem uma fonte suplementar de muitos empregos e de riqueza[28].
NOTAS:
[1] Vatican: DISCORSO DEL SANTO PADRE FRANCESCO
[2] O então Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, fez ele a ligação entre a encíclica e as iniciativas da ONU, dizendo num colóquio organizado pelo Vaticano: “Neste ano, com a próxima encíclica, a Cúpula sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e um Acordo global de mudança climática, temos uma oportunidade sem precedentes para articular — e criar — um futuro mais sustentável e uma vida com dignidade para todos”
United Nations Secretary General: Secretary-General's Remarks at Workshop on the Moral Dimensions of Climate Change and Sustainable Development "Protect the Earth, Dignify Humanity" [As Delivered]
[3] Ver as cartas enviadas pela Cornwall Alliance em Cornwall Alliance: An Open Letter to Pope Francis on Climate Change
[4] “O Pontífice leu seus livros? ‘Mais do que isso. Pediu-me material para a Laudato Sì. Dei-lhe conselhos e enviei-lhe coisas que escrevi… De maneira que o Papa me disse diretamente: ‒ Boff, não me mande suas cartas diretamente. ‒ Por que não? Disse-me: ‒ Se não os subsecretários as interceptarão e não as receberei. É melhor enviar as coisas ao embaixador argentino junto à Santa Sé, com quem tenho um bom contato, e chegarão seguras em minhas mãos. O embaixador é um velho amigo do Pontífice. E depois, no dia prévio à publicação da encíclica, o Papa mandou chamar-me para agradecer-me pela ajuda’” (cf. KSTA: Leonardo Boff im Interview „Papst Franziskus ist einer von uns“).
[5] Detalhes sobre suas posições e sua contribuição na redação da Laudato Sì em Voice of Family: PROFESSOR SCHELLNHUBER: CLIMATE SCIENCE AND THE “POPULATION PROBLEM”
[6] Life Site: Professor Schellnhuber: climate science and the ‘population problem’
[7] Center for Humans and Nature: EXPANDING THE DEMOCRACY UNIVERSE
[8] The New York Times: Scientist: Warming Could Cut Population to 1 Billion
[9] The Pontifical Academy of Sciences: Protect the Earth, Dignify Humanity. The Moral Dimensions of Climate Change and Sustainable Humanity
[10] Evangelii gaudium n° 243.
[11] Vatican: LAUDATO SI’
[12] Laudato Sì n° 23.
[13] O cardeal George Pell declarou a esse respeito: “A Igreja não tem nenhum mandato do Senhor para pronunciar-se em matérias científicas” (Financial Times: Reformer tries to bring light to closed world of Vatican finance )
[14] Por exemplo, apesar de o CO2 ser parte natural da atmosfera e necessário ao crescimento de qualquer vegetal, incluído o fito plâncton marinho, e à libertação de oxigênio na atmosfera, o Papa afirma que “a poluição (sic!) produzida pelo dióxido de carbono aumenta a acidez dos oceanos e compromete a cadeia alimentar marinha” (n° 24).
[15] Laudato Sì, n° 161.
[16] Ibid. n° 109.
[17] Ibid. n° 112.
[18] Ibid. n° 171.
[19] Ibid. n° 114.
[20] Ibid. n° 114.
[21] Ibid. n° 23.
[22] Ibid. n° 111.
[23] Ibid. n° 55.
[24] New York Post: Do the Pope and I live on the same planet?
[25] Laudato Sì n° 49.
[26] Ibid. n° 161.
[27] The Washington Post: Pope Francis’s fact-free flamboyance
[28] Catholic World Report: Concerning the “Ecological” Path to Salvation
Obs: Continua no post da próxima terça-feira: Índios: Modelo da "Conversão Ecológica" Postulada Pelo Papa Francisco
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