WASHINGTON – A inteligência e os órgãos policiais e de justiça dos EUA concluíram que é possível que jamais venham a saber com precisão satisfatória tudo que o ex-empregado de empresa contratado pela Agência de Segurança Nacional Edward J. Snowden extraiu dos computadores super secretos do governo, antes de deixar os EUA, disseram os altos funcionários federais norte-americanos.
Os investigadores permanecem no escuro sobre a extensão da quebra de segurança dos dados, em parte porque a unidade da Agência de Segurança Nacional dos EUA no Havaí, onde Snowden trabalhava – diferente de outras unidades – não estava equipada com programas atualizados que permitissem àquela agência de espionagem monitorar os pontos, de seu vasto horizonte de computação, em que os empregados estivessem navegando em cada momento.
Seis meses depois de a investigação ter sido iniciada, os funcionários disseram que Snowden havia coberto suas pistas logando-se em sistemas sigilosos mediante as senhas de outros empregados da agência, e depois de invadir firewalls instalados para limitar o acesso a algumas partes do sistema.
“Consumiram-se centenas e centenas de horas-homem para reconstruir tudo que ele copiou, e ainda não se sabe a extensão do que ele tem” – disse um alto funcionário do governo. “Sei que parece loucura, mas tudo, nesse caso, é loucura.”
A evidência de que Snowden tenha sido tão hábil a ponto de ter conseguido explorar os pontos cegos nos sistemas da mais secreta agência de espionagem dos EUA ilustra bem o quanto a segurança de computadores ainda é precária, mesmo depois de anos de o presidente Obama ter ordenado que os padrões de segurança fossem melhorados, depois das revelações de WikiLeaks em 2010.
Leia mais:
A NSA Utiliza Cookies do Google Para Identificar Alvos Para Espionagem
As revelações de Snowden dispararam um debate nacional sobre a extensão dos poderes da Agência de Segurança Nacional dos EUA para espionar, em casa e no exterior, e condenaram o governo Obama a ter de tentar remendar relações com aliados, depois de o mundo saber que os EUA espionaram governantes de outros países.
Uma comissão presidencial de aconselhamento, que examinou as operações da Agência de Segurança Nacional, entregou ontem (6ª-feira) o seu relatório ao presidente Obama. A Casa Branca disse que o relatório não será divulgado até o próximo mês, quando o presidente Obama já tiver decidido quais recomendações acatará e quais rejeitará.
Snowden entregou o arquivo de documentos a pequeno grupo de jornalistas, e alguns deles partilharam documentos com várias empresas de notícias – o que acabou por revelar a espionagem contra governos amigos. Em entrevista ao The New York Times em outubro, Snowden disse que entregou os documentos que copiou a jornalistas e que não conservou cópias adicionais.
Recentemente, um alto funcionário da NSA disse a repórteres que acredita que Snowden ainda tem documentos que não revelou. Esse funcionário, Rick Ledgett, que chefia a força-tarefa da Agência que está examinando o vazamento produzido por Snowden, disse que consideraria a possibilidade de os EUA garantirem anistia a Snowden, em troca daqueles documentos.
“Sim, minha opinião pessoal é que sim, vale a pena conversar sobre isso” – disse Ledgett à CBS News. “Eu exigiria garantias de que o resto dos dados estariam fechados para sempre, e meu padrão de exigência, nesse caso, seria muito alto. Teria de ser mais que a simples palavra dele.”
Snowden está vivendo e trabalhando na Rússia, sob asilo concedido por um ano. O governo russo recusou-se a extraditar Snowden para os EUA, onde Snowden foi acusado pelo Departamento de Justiça, em junho, por crimes de espionagem e roubo de propriedade do estado.
Snowden disse que voltaria aos EUA, se recebesse anistia, mas nada garante que o presidente Obama – a quem, provavelmente, caberia tomar a decisão de anistiá-lo – optaria por essa via, dado o dano que o governo alega que os vazamentos teriam causado à segurança nacional.
Dado que a NSA ainda não sabe exatamente o que Snowden tem, os funcionários são informados dos vazamentos, quase sempre, pelos jornalistas que trabalham na publicação dos documentos, o que os deixa sem tempo para prevenir outros países sobre revelações que estejam a caminho.
Enquanto a segurança da Agência tenta reciclar sua rede de computadores, na sequência do que pode ter sido a maior invasão em arquivos de informação secreta de toda a história dos EUA, o Departamento de Justiça continuou sua investigação sobre Snowden.
Segundo altos funcionários do governo, agentes do FBI do escritório de campo do gabinete, em Washington, acreditam que Snowden tenha metodicamente baixado os arquivos ao longo de vários meses, enquanto trabalhava como empregado terceirizado do governo, no Havaí. Para os mesmos agentes do FBI, Snowden trabalhou sozinho.
Mas, apesar da vasta expertise técnica de Snowden, alguns funcionários norte-americanos culpam a segurança da Agência, por não ter instalado software que detectasse atividade não usual nos computadores pelo pessoal que trabalha ali – 35 mil empregados, a maior força de trabalho de todas as agências de inteligência.
Depois de episódio semelhante em 2010 – quando um cabo do exército, Chelsea Manning,* entregou centenas de milhares de arquivos de conversas e de telegramas diplomáticos ao grupo WikiLeaks – o governo Obama tomou medidas para evitar que outro empregado do estado copiasse e distribuísse grandes quantidades de material secreto.
Em outubro de 2011, o presidente Obama assinou uma Ordem Executiva que criou uma força-tarefa encarregada de “deter, detectar e mitigar ameaças internas, incluindo salvaguardar informação secreta, contra exploração, concessão ou qualquer outra revelação não autorizada.” A força-tarefa, comandada pelo advogado-geral e pelo diretor da inteligência nacional, tem a responsabilidade de desenvolver políticas e novas tecnologias para proteger informação secreta.
Mas uma das mudanças, a atualização dos sistemas de computadores, para rastrear as trilhas por onde se movimentem os empregados das agências de inteligência, foi muito lenta.
“Não conseguimos mexer numa chave e ter todas as mudanças implementadas num instante” – disse um funcionário da inteligência norte-americana.
Lonny Anderson, chefe de tecnologia da Agência de Segurança Nacional dos EUA, disse em entrevista recente que muito do que Snowden copiou veio de partes do sistema de computadores abertos a qualquer pessoa que tivesse autorização de alto nível de segurança. E que parte de seu trabalho era deslocar grandes quantidades de dados entre diferentes partes do sistema.
Mas, disse Anderson, as atividades de Snowden não eram monitoradas de perto e não dispararam nenhum tipo de sinal de alerta.
“A lição a aprender, para nós, é que é preciso acabar com o anonimato” para todos que tenham acesso a sistemas secretos, disse Anderson em entrevista ao Blog Lawfare, parte de uma série que aquela página prepara-se para publicar essa semana.
Funcionários disseram que Snowden, que entendia a fundo a arquitetura dos computadores da Agência de Segurança Nacional, poderia já saber que os escritórios do Havaí estavam atrasados, em relação a outros, na instalação dos programas de monitoramento.
Segundo um ex-funcionário do governo que falou recentemente com o general Keith B. Alexander, diretor da Agência de Segurança Nacional dos EUA, o general disse que, no momento em que Snowden estava copiando os documentos, a agência de espionagem estava a meses de iniciar a instalação de sistemas que capturariam a atividade.
Enquanto avançavam as investigações pelo FBI e pela NSA, o Departamento de Estado e a Casa Branca ainda estão tendo de absorver o impacto das revelações de Snowden contra as relações diplomáticas dos EUA e outros países.
“Há esforços em andamento, pelo Departamento de Estado, para fazer contato com outros países e explicar a eles o que se sabe sobre o que Snowden gravou” – disse um alto funcionário do governo. O mesmo funcionário disse que o Departamento de Estado costumava considerar a espionagem contra governantes estrangeiros como “a coisa de sempre” [orig. “business as usual”] entre nações.
* Interessante observar aqui que o New York Times dá à Chelsea Manning o nome que ela declarou que prefere, quando mudou de identidade social, de Bradley (nome masculino), para Chelsea (nome feminino).
Já os infinitamente imbecis jornalistas do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) insistem em dizer e escrever “presidente” (designação masculina) para a presidenta Dilma, que não mudou de sexo, nem de identidade social, e, simplesmente, declarou que preferia que se usasse, para ela, o substantivo “presidenta” (designação feminina).
À parte a imbecilidade do que os jornalistas do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) insistem em dizer, escrever e ensinar a repetir, há a considerar também a inominável grosseria e a repugnante arrogância. Muito piores, como se vê, até, que a do NYT. [NTs]
Traduzido por Vila Vudu
Revisado por Jahaísa e Admin
Fontes:
- The New York Times: Officials Say U.S. May Never Know Extent of Snowden’s Leaks
Nenhum comentário:
Postar um comentário