A morte de seis estudantes da Universidade Lusófona na praia do Meco está desencadeando uma série de perguntas sem resposta. As mais recentes investigações desvendam que estes trotes seriam parte de um ritual. A sic anunciou que este tipo de trote não são novos nesta universidade. Estes trotes são documentados e todos os participantes são alvos de relatórios e descrições.
Quanto à universidade, é uma instituição privada e elitista, Miguel Relvas é um dos exemplos do tipo de alunos deste estabelecimento de ensino.
Numa das primeiras notícias lembro-me do título do i, "Trotes terão originado tragédia", me ter causado impressão porque nada no artigo indicava que os trotes tivessem dado diretamente origem ao acidente. O que se passava era que estas sete pessoas tinham ido de férias porque pertenciam aos trotes da Universidade Lusófona (nada branda nessa matéria, digo-o por experiência própria). Longe do meu ideal de férias, mas não se misturam alhos com bugalhos, certo? Portanto, neste artigo do i ficamos sabendo isto:
"Estavam sentados à beira-mar quando foram surpreendidos por uma onda que os arrastou. Apenas um dos jovens conseguiu salvar-se acabando por dar o alerta.
Outro jovem foi já encontrado, morto, e os restantes cinco continuam desaparecidos. Durante o dia tinham estado fazendo trotes aos alunos mais novos. “Via-se bem que aquilo era um trote. Estava tudo na galhofa, mas respeitarem o veterano”, disse ao mesmo jornal um morador de Aiana."
Entretanto, pela mão da TVI, ficamos sabendo que estavam em contexto de trote, com os respectivos trajes acadêmicos, que todos pertenciam à Comissão de Praxe da Universidade Lusófona e que foram para a praia durante a noite:
"Foram vistos, pela última vez, vestidos de negro, rumo à praia. Envergavam o traje acadêmico. Fernando Costa, dono do restaurante “Gula do Meco” terá sido a última pessoa a ver o grupo com vida. “Estava na varanda, cerca de meia noite, e vi um grupo de jovens a caminho da praia”, contou ao Jornal de Notícias. “Achei estranho pela hora. No inverno não é habitual ir até ao mar àquela hora”, acrescenta. “Iam todos vestidos de negro e muito calmos”.
Eram sete, três rapazes e quatro raparigas. Estudavam na Universidade Lusófona. Tinham entre 21 e 25 anos de idade e pertenciam à Comissão de Praxe (“Copa”), maioritariamente constituída por veteranos, com representantes de vários cursos. Era habitual organizarem fins-de-semana fora.
Entretanto, é no tabloide Nova Gente que chegam uma série de novas informações a serem confirmadas (são de um amigo da namorada do sobrevivente) que são bastante curiosas: quem sobreviveu ao acidente foi o "veterano" mais alto na hierarquia de trotes do grupo, e esse "veterano" estava de frente para a água e os restantes seis de costas.
Muito se tem dito sobre a culpa do sobrevivente João Miguel Gouveia que era o responsável máximo do grupo sendo que os outros seis — Tiago André Campos, Andreia Revez, Carina Sanchez, Joana Barroso, Catarina Soares e Pedro Tito Negrão — também tinham responsabilidades mas teriam de “obedecer” a João Miguel. Nos corredores da Lusófona correm várias versões sobre como tudo teria acontecido.
O Nova Gente conversou com um amigo da namorada do sobrevivente, que nos contou que “eles estavam no areal em frente ao rochedo e o João estava dando-lhes a ordem de trote. Havia agitação mas nada que o levasse a pensar que pudessem ser arrastados por uma onda porque não se encontravam à beira da água. Nenhum trote é feito para colocar a integridade física das pessoas em risco e o João era muito responsável nesse sentido. Estavam todos de pé, ele de frente para o mar e os outros de costas. Veio uma onda que os arrastou, o João ainda conseguiu agarrar o braço do Pedro Tito Negrão e estava tentando puxá-lo enquanto lutava para se salvarem só que o set de ondas foi terrível e voltou a cair violentamente sobre os dois, separando-os e arrastando de vez o Pedro a quem João deixou de ver… Os outros cinco, o João perdeu-os de vista logo na primeira rebentação das ondas e, quando conseguiu arrastar-se para longe da água, vomitou e avisou por telefone do acidente”, contou o jovem universitário, adiantando-nos que João, o sobrevivente, “está completamente abalado e sedado. Sente-se muito culpado por ter sobrevivido e não ter conseguido salvar nenhum dos seis colegas e amigos. Pelo que a namorada dele me disse, o João parece que enlouqueceu com tudo isto e como está fragilizado, emocionalmente desfeito está sendo fortemente medicado no hospital”, conclui.
Num artigo do Diário de Notícias, sabemos que um dos jovens morre de outra causa que não o afogamento por não ter água nos pulmões. As autoridades falam da violência do embate que poderá ter causado a morte imediata.
João Miguel Gouveia tem mantido o telefone desligado, recatado e se recuperando do choque, depois de ter conseguido escapar à “onda cavaleira” que traiu seis dos sete jovens estudantes da Lusófona. O embate teria sido de tal forma violento, que as autoridades admitem ter sido a força da onda durante beira-mar que matou Tiago. Segundo revelou ao DN Carlos Poiares, com base nas informações da Marinha, esta conclusão assenta no fato de o jovem não ter água nos pulmões o que fez o mar devolver o corpo à costa.
A Polícia Marítima quer mais explicações do sobrevivente, que além de ter dado o alerta às autoridades através do seu próprio celular, segundo o capitão do Porto de Setúbal, Lopes da Costa, também ajudou a encontrar as famílias das vítimas. É neste jovem de 23 anos que poderá estar a explicação para a tragédia da madrugada de domingo, quando os sete estudantes foram para a praia de traje acadêmico, percorrendo cerca de sete quilômetros a pé, entre Aiana (onde alugaram casa) e a praia.
Por fim, parece estar delineando-se algo que poderá ultrapassar a forma de um lamentável acidente. No site Público saiu uma grande e poderosa reportagem que acompanha os pais de uma das raparigas que morreu no Meco. Aqui, além de falarem da solidariedade que foram recebendo um pouco por todo o lado (ainda bem que existe), se percebe que o estágio não remunerado da sua filha estava fazendo e "que supostamente dá experiência e currículo, mas que não é mais do que trabalho escravo" (e querem que isto seja um alerta), há uma parte que merece um destaque sobre os contornos dos acontecimentos:
É quase tudo o que sabem, que foi o mar que a levou, que os sete jovens fizeram sete quilômetros a pé da casa onde estavam até à praia vestidos de traje acadêmico, que pararam num café onde quatro deles beberam cafés. Tudo o resto está envolto em dúvidas. “Não sabemos o que é que se passou na praia, por que é que sobrou um e morreram seis.” Afinal, como é que foi dado o alerta: a partir de uma cabine telefônica ou através do celular do sobrevivente? Porque é que decidiram fazer aquela distância a pé? Porque é que estavam de madrugada na praia? Afinal, qual é verdade? Estavam sentados na areia ou estavam no mar e porquê?
António Soares só quer que a Justiça faça o seu trabalho, que avalie se foi “um acidente natural” ou não.
“Tenho de saber tudo o que se passou desde que ela saiu de casa. Cada um tem a sua teoria da conspiração, eu tenho a minha, não quero especular.” Talvez saber o que aconteceu ajude. António Soares deixou de conseguir pensar a beira-rio, como sempre fez, Fernanda Cristóvão deixou de conseguir comer peixe. Tudo lembra o mar.
Finalmente, uma notícia da TVI levanta um pouco mais o véu. O sobrevivente não é só o mais alto na hierarquia do trote do grupo, é o "Dux" da Universidade Lusófona e este seria o único que teria o celular consigo, o restantes teriam deixado os celulares em casa. Além disso a mochila do "Dux" estaria seca e os pertences que estariam na casa alugada estavam todos arrumados em sacos com os nomes de cada um deles.
João Gouveia, 23 anos, “Dux” da Comissão Oficial das Praxes, foi o único sobrevivente da tragédia. Segundo os relatos iniciais, era o único que tinha o celular consigo e deu o alerta às autoridades. A sua mochila também foi encontrada seca. Aliás, uma das perguntas que continua a fustigar os familiares dos jovens que morreram está relacionada com os celulares. Por que os deixaram, todos, em casa? Foram obrigados a isso? Ou foi uma escolha?
Mas esta não é a sua única dúvida. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público do Tribunal de Sesimbra e segundo avança o jornal diário “Correio da Manhã”, a questão dos celulares é uma das pontas que está intrigando os investigadores. O jovem sobrevivente ainda não voltou a ser ouvido pelas autoridades, nem sequer falou com os pais dos seus amigos. Há um mês que está fechado em casa. Mas em breve, João Gouveia deverá ser chamado como testemunha no processo.
Mas há outros "fatos estranhos" em relação àquela fatídica noite. Horas depois dos jovens desaparecerem na praia, a casa que tinham alugado para passarem o fim-de-semana, escreve o “CM”, foi toda arrumada. Como se não bastasse, os bens dos estudantes estavam todos guardados dentro de sacos com o seu nome escrito.
“Precisamos de resposta. Queremos que o João fale. Estamos falando de garotos muito responsáveis e isto torna tudo muito mais estranho”, desabafa ao “CM” Fátima Negrão, mãe de Pedro, uma das vítimas mortais."
Claro que isto é tudo especulação de quem está atento a este tema e que está juntando peças através de artigos de jornais, mas não deixa de suscitar muitas questões. E não questiono tanto o caso de ter sido um acidente, questiono, isso sim, se este terrível acidente não está diretamente relacionado com a prática do trote, essa que não seria a primeira vez que causaria a morte de alguém, e que todos os anos ensina os estudantes a mandarem uns nos outros.
Atualização 1:
Entretanto mais uma notícia preocupante do site Público, onde vários pais falam das suas interrogações: porque foram os pertences dos envolvidos levados para a Universidade Lusófona sem consentimento dos pais; a esperança que o "código ético dos trotes" mostre o tipo de atividades que poderiam ter ocorrido, enquanto o conteúdo dos trotes está envolto em secretismo (já no caso da morte de Diogo Macedo, em Famalicão, a união mafiosa do trote não permite que se saiba o que aconteceu), apenas que estas serviam "para as tornar mais mulheres". Esta é a solidariedade entre estudantes?
Atualização 2:
Em uma notícia do Jornal de Notícias há uma pequena entrevista com uma aluna da Lusófona. É quase surpreendente o tom que usa para justificar a aparente normalidade do que aconteceu – eles sabiam aonde iam, sabiam que iam mergulhar na água a mando do "Dux". Portanto, um poder instituído numa pessoa, baseando-se vagamente uma "tradição" estúpida de Coimbra, permite este tipo de acontecimentos. A "culpa" não é do Dux - e até pode não ser (mas mandou-os ir para a água ou não? se sim, isso isenta-o de responsabilidade?), mas que a culpa é do trote parece ser o mais provável. Além disso há um "pacto de silêncio", que até se poderia entender em relação à comunicação social, mas não é entendível em relação a todo o resto. O que esconde este pacto?
”É normal este tipo de rituais. Sei lá: saltar ondinhas. Lá (na Lusófona), sabemos que o João contou que era isso que fizeram. Eles sabiam que iam entrar na água. Culparem-no é um disparate”, disse, ao JN, sob anonimato, uma das dezenas de estudantes que homenagearam as vítimas e se refugiaram no café de praia, devido à chuva. “Por isso deixaram os celulares em casa”, disse a jovem, interrompida por dois colegas trajados, quando perceberam que a jovem estava quebrando o pacto de silêncio que impera entre os estudantes e do qual os familiares das vítimas se queixam.
Atualização 3:
Parece que continua valendo a pena acompanhar o JN. Um mês depois do que aconteceu no Meco ficamos sabendo que há mais um sobrevivente, o ex-"Dux" (agora ex-ex-Dux) da Lusófona que também estaria por lá. Pelos visto ajudou-o nessa noite – no quê? E como é que só agora sabe disto? O que é mais importante, perceber o que se passou ou tentar que os praticantes do trote se safem? E mais: os pertences dos estudantes que morreram só hoje foram devolvidos aos familiares. Mas porque é que a Lusófona ou a comissão de trotes tiveram os pertences durante um mês inteiro?
Serão estes trotes rituais de uma sociedade secreta?
Fontes:
- Fórum Anti Nova Ordem Mundial: A morte de seis estudantes da Universidade Lusófona
- Ladrões de Gado: O acidente no Meco e as praxes
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